Quando retornou do exílio, em 1979, Leonel Brizola alimentava o sonho de recriar o Partido Trabalhista Brasileiro (PDT) – agremiação criada originalmente por Getúlio Vargas, na qual, juntamente com seu cunhado João Goulart, militou com o sonho de reformar o Brasil para melhor.
Na época, antevendo a envergadura que a sigla poderia dar à esquerda brasileira caso estivesse conduzida por homem da estatura política da Brizola, o general Golbery do Couto e Silva, então todo-poderoso ministro-chefe da Casa Civil do general-presidente João Batista Figueiredo, mexeu os pauzinhos para entregar a sigla à dócil Ivete Vargas, arrancando-lhe lágrimas [em Brizola] e forcando-o a criar (como Plano B) o Partido Democrático Trabalhista (PDT) – partido pelo qual governou o Rio de Janeiro entre 1992 e 1996 e só não chegara à presidência antes por conta da manipulação feita pela rede Globo nas eleições de 1989.
Desde o inicio, conforme planejara o general Golbery, o PTB revelou-se um ‘prato-de-papa’ e, cumprindo jornada trôpega e sinuosa, chegou ao comando do trânsfuga Roberto Jefferson, passando a ser isso que se vê por aí.
De sua parte, mesmo com a partida de Brizola em 2004, com um tropeço aqui outro ali, o PDT vinha se mantendo firme aos ideais originais até que, talvez picado pela mosca azul trazida por Ciro Gomes, desandou e passou a trair os princípios norteadores da sua fundação.
Nos dias correntes, a cada dia que passa, o PDT fica mais parecido com o PTB, compondo uma massa disforme, que, evidentemente, trai o sonho daqueles que os criaram.
Este processo – que fica mais claro com o apoio indireto dado a eventual realização de um segundo turno das eleições presidenciais em benefício de Jair Bolsonaro – ganhou destaque ontem, no debate promovido por pool liderado pelo SBT, quando, formando uma espécie de dobradinha articulada por ajustes sutis, o candidato do PTB se esmerou em elogiar abertamente o governo do presidente Jair Bolsonaro e o candidato do PDT se empenhou em atacar Lula com o nítido propósito de aumentar a sua rejeição (rejeição de Lula).
Quem poderia pensar que, um dia, PDT e PTB estivessem juntos para trair a essência do pensamento que os criou, traindo as memórias de João Goulart e de Leonel Brizola.