Por estes dias, veio à tona que, como se fosse um tocador de boiadas qualquer, já na reta final do mandato, em 21 de outubro de 2022, no curso de uma negociação pouco transparente, o governo do Estado de Pernambuco fez a Assembleia Legislatura aprovar uma tal Lei 17.940, através da qual doou uma área social e cientificamente estratégicas localizada no Parque Memorial Arcoverde, no Complexo de Salgadinho, Olinda, para a empresa norte-americana Seaborn.
Na justificativa, o governo disse que a doação viabilizaria “a instalação de um data center para processamento de dados com computadores de última geração e a construção de um landing station para receber cabos submarinos”.
Acontece que, como faz um negociador esperto, o governo não disse que o mimo dado aos gringos de mão beijada se tratava de área fundamental do ‘Espaço Ciência’ – um grande museu de ciência e de tecnologia, dotado de parque, área de exposições, planetário e trilhas ao ar livre, criado a partir de projeto do paisagista Roberto Burle Marx, que recebe, de forma gratuita, milhares de visitantes, principalmente alunos de escolas públicas.
Acossado pela opinião pública, depois de se proteger com um ‘a lei foi aprovada pelos deputados estaduais’ (deputados da oposição dizem que a tramitação do PL escondeu informações importantes), o governo distribuiu uma nota insossa na qual, como se não esperasse o contraditório, dá o negócio como favas contadas e diz que “o Espaço Ciência não vai sofrer qualquer perda em seu patrimônio, (pois) os 8 mil metros quadrados suprimidos da parte norte do terreno serão substituídos igualmente por 8 mil metros quadrados no lado sul da instituição, em área contígua pertencente à Empetur”.
A nota acrescenta que “Todos os equipamentos e mobiliários existentes na área desmobilizada serão transportados e remontados na nova localização, sem qualquer prejuízo às atividades”. Não é isto o que pensa a comunidade afetada.
O próprio cientista Antonio Carlos Pavão, diretor do Espaço Ciência, denunciou ter sido “enganado” pela argumentação falaciosa do governo do Estado e, destacando os prejuízos que a graciosidade aos norte-americanos vai impor ao museu, pede a revogação da Lei.
Sinceramente, não era isto que o Povo pernambucano esperava do governador Paulo Câmara. Logo ele, que sempre se disse um ‘defensor da iniciação científica’.
Ainda há como reparar esta pataquada, especialmente porque, como afirma a nota do próprio governo, há a disponibilidade de área semelhante no lado sul do Espaço Ciência, “em área contígua pertencente à Empetur”.
Na realidade, reconhecendo que cabe ao governo encontrar a melhor alternativa para salvar os compromissos assumidos com os gringos da Seaborn, a sociedade pernambucana espera que a Lei 17.940 seja revogada e, sem o risco de ser esquartejado, o Espaço Ciência possa continuar as suas atividades nos enchendo de orgulho.