E se, ao invés da visita da deputada Nanci Pelosi a Taiwan, os EUA se deparassem com informações sobre visita do presidente Xi Jinping à Cuba? E se, ao invés de ouvir o compromisso imorredouro dos EUA com a Democracia taiwanesa, a imprensa internacional tivesse noticiado o compromisso do governo chinês com o socialismo cubano?
Será que teríamos a reedição da crise diplomática de outubro de 1962, quando, mesmo com o rabo preso pela instalação de seus mísseis na Turquia, os EUA ameaçaram dar início a uma guerra global porque, em gesto similar, a URSS instalou mísseis um Cuba?
Se já era egoista, depois da submissão implícita nas políticas de Perestroika e Glasnost adotadas por Mikhail Gorbachev e responsáveis pela debacle da URSS e emersão de um mundo unipolar centrado na vontade da Casa Branca, a política externa norte-americana atingiu píncaros da arrogância.
Nunca é demais lembrar que, sem deixar de lado as violências nas quais está envolvida direta ou indiretamente (nos últimos 120 anos, não houve um dia sequer no qual norte-americanos presentes em países estrangeiros tenham deixado de dar, pelo menos, um tiro), a Casa Branca passou a comandar assassinatos no exterior.
Parece até piada (mórbida), mas – sem nos deixar esquecer o assassinato no México do bolchevique Leon Trótski por agentes de Stalin no longínquo 1940 e querendo emitir juízo de valor ‘definitivo’ sobre atitudes dos governos estrangeiros -, não satisfeito em estimular guerras, golpes de Estado e violências mundo afora, os EUA praticam uma política de assassinatos tão absurda como aquela que condenam em Stálin.
De fato, nos últimos anos, dois destes episódios ganharam espaço no noticiário sem condenações expressivas: em janeiro de 2020, em ataque por míssil em Bagdá, Donald Trump comandou o assassinato do general Qasem Soleimani, comandante da Guarda Revolucionária iraniana, em Bagdá; agora, em agosto de 2022, usando um ataque por drone no Afeganistão, Joe Biden comandou o assassinato do líder da Al-Qaeda Ayman al-Zawahiri.
Na política externa não existem países-santos e países-bandidos, pois todos têm pecados, virtudes, atenuantes e explicações.
Uns países, no entanto, parecem piores.
É o caso dos EUA, que, mesmo sem admitir, parecem jamais ter abandonado a política do Big Stick.