Ontem, confirmando o estado de coisas que vem sendo construído desde o advento da extrema-direita no Brasil com a posse de Jair Bolsonaro, usando um robusto arsenal de guerra privado (e só possível graças à política armamentista de Bolsonaro), um líder conservador resistiu à bala ao cumprimento de uma decisão judicial e, de alguma forma, recebeu apoio do próprio presidente.
Um absurdo!!!
De fato, ontem, no final da manhã, ao invés de acatar a decisão do ministro Alexandre de Moraes que suspendera sua prisão domiciliar por conta de desobediências, o ex-deputado Roberto Jefferson resistiu ao mandato de prisão e, usando fuzis e granadas, atacou a guarnição da polícia federal, ferindo um delegado e uma agente.
Como fere o princípio que nos foi ensinado desde sempre (‘as ordens judiciais devem ser obedecidas’), por si só, este episódio já seria gravíssimo.
Mas, ele [o episódio] é muito mais grave.
Primeiro, porque partiu de um dos principais parceiros do presidente Bolsonaro e, nesta condição, não tomaria qualquer iniciativa sem algum tipo de autorização (explícita ou implícita).
Para os esquecidos, foi Roberto Jefferson quem ofereceu a legenda do PTB para Bolsonaro disputar as eleições (Bolsonaro optou pelo PL, mas sempre teve o PTB à disposição); foi Roberto Jefferson que, na impossibilidade jurídica de ele próprio ser candidato, articulou a candidatura do tal Padre Kelmon para servir de linha auxiliar de Bolsonaro (especialmente nos debates televisivos); foi a Roberto Jefferson que Jair Bolsonaro recorreu para mandar os mais duros e grosseiros recados, especialmente ao poder judiciário.
A gravidade do episódio se estende, naturalmente, às mensagens nele encerradas, como a possibilidade de alguém desacatar os poderes policiais e judiciários, enfrentando-os à bala (como no ‘velho oeste’) e ao perigo representado pelos arsenais privados.
Um dos maiores elementos da gravidade deste episódio, no entanto, está associado ao envolvimento direto do próprio presidente Jair Bolsonaro, que não titubeou em (desmoralizando a Polícia Federal) escalar o ministro da justiça Anderson Torres para negociar a rendição do terrorista e indicar o cupincha Daniel Silveira para acompanhar o processo.
Quem diria?
Além de tudo, Bolsonaro também é cúmplice de terrorismo.
De qualquer forma, vale o registro feito por vozes bem informadas de que, ao resistir violentamente à polícia, Roberto Jefferson pretendia ser abatido em confronto, oferecendo-se como uma espécie de mártir da causa bolsonarista (seja ela qual for) e, assim, dar impulso eleitoral ao seu candidato.